Música: Fernanda Takai prepara disco com vocalista do Pizzicato Five

MARCUS PRETO
da Folha de S.Paulo


O Pato Fu nunca escondeu sua deslavada admiração pelo Pizzicato Five. Fortes ecos de influência dos ícones da música pop japonesa são facilmente identificáveis, em uma ou outra faixa, em quase todos os álbuns da banda mineira desde a estreia deles, em 1993.

Em outros casos, o Pizzicato ganhou do Pato homenagens bem mais explícitas. "Made in Japan", música de 1999, foi arranjada pelos brasileiros seguindo à risca a cartilha do shibuya-kei, estilo que a banda japonesa propagou durante a década e meia em que esteve na ativa, entre 1985 e 2001.

Pois toda essa identificação formal recebe agora, mais do que um aval, o devido reconhecimento. Atualmente em carreira solo, Fernanda Takai prepara um álbum em dupla com Maki Nomiya, a lendária vocalista do Pizzicato Five.

O disco, um EP com cinco faixas que ainda não foi devidamente batizado pelas artistas, está em pleno processo de gravação, via internet entre Minas e Japão. Vai ser lançado por lá em edição "física". Aqui, suas faixas serão comercializadas apenas em formato digital. O produtor John Ulhoa, marido de Takai e guitarrista do Pato Fu, prepara as bases de cada canção no estúdio que a banda tem no quintal de sua casa, em Belo Horizonte. Grava as vozes de Takai como referência e envia os áudios prontos para Tóquio em formato MP3.

Do outro lado do mundo, Mari Nomiya recebe esse e-mail, leva os MP3 para o estúdio e grava sua voz usando aquela base como referência. Esse material é mandado, também via rede, de volta a Minas, onde é retrabalhado por John.

As cinco canções do futuro disquinho já estão definidas. Duas delas são sugestões de Maki. Outras duas de Takai.

Tema criado pelo Pizzicato para um programa infantil, "A Message Song" tem título em inglês, mas é cantada em japonês. Já "Hitori Ni Shitene", de Ishida Ayumi, é um clássico do pop japonês e hit nos karaokês da Liberdade.

"Saudade", composta por Takai e Gérson, já foi gravada pelo Pato Fu no CD "Isopor". Nessa, Maki arrisca seu português. Para "Nagoya", ela fez uma letra japonesa. A canção, inédita, é a primeira parceria do casal Ulhoa-Takai com João Donato. A melodia foi criada pelo músico em viagem ao Japão e, depois, ganhou letra.

O EP fecha com uma gravação ao vivo de "Kobune", versão de Ryosuke Itoh para o clássico da bossa nova "O Barquinho", de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. A faixa foi registrada em show de Takai em Tóquio, no começo do ano.

Maki diz que canções em português tocadas ao violão são relaxantes. "Estou no centro de Tóquio, mas me sinto no Rio de Janeiro, embaixo do sol", escreveu à Folha, por e-mail. "Tive sorte em encontrar Fernanda Takai. Sua voz é linda. Nenhum japonês canta como ela. É no que estou interessada".

A ideia de fazer o disco em dupla veio da cantora japonesa, que esteve no Brasil pela primeira e única vez no ano passado, como convidada do próprio Pato Fu para uma participação no festival Eletronika. Foi quando tudo começou.

"Ela queria muito conhecer o Brasil. Pediu para ir a uma churrascaria e passear pelos pontos turísticos de BH. Fomos à Pampulha, ao Mirante das Mangabeiras, ao Mineirão", conta Takai. "Apesar de o Pizzicato ter acabado, Maki continua muito famosa no Japão. É o exemplo de mulher bem sucedida, uma figura pop que, ao mesmo tempo, tem muita classe. É uma espécie de Catherine Deneuve japonesa".

De seu lado, Maki Nomiya se diz "muito empolgada" com a possibilidade de, a partir desse trabalho com Takai, construir uma carreira no Brasil. "Esse é só o primeiro passo. É importante fazer isso funcionar, aproveitando o que cada uma tem de melhor".

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